domingo, 3 de novembro de 2013

Valesca Popozuda é tema de matéria da BBC News

O assunto abordado na matéria é o feminismo, o notável crescimento de mulheres no mundo do funk e a busca da igualdade sexual. Como uma das primeiras cantoras a cantar músicas com letras feministas, Valesca Popozuda faz parte da matéria, o funkeiro Mr. Catra também da sua opinião sobre o assunto.

Veja a matéria traduzida abaixo!

É um novo movimento feminista do Brasil explícito funk carioca?  

A cena do funk esta mudando o Rio, mas por quanto?
Com seu som característico e muitas vezes letras pornográficas do som funk de favelas do Rio de Janeiro - funk carioca - usado para ser um mundo dominado pelos homens.

Nascido em 1980 em bairros mais pobres do Rio de Janeiro, a música foi inspirada por Miami bass - uma versão de hip hop. Canções foram em torno de temas como pobreza, raça e sexo.

No passado, costumava prosperar em algumas áreas dominadas por traficantes de drogas, e os partidos eram muitas vezes com a presença de homens fortemente armados.

Mas agora, em uma mudança notável, funk carioca está sendo adaptado como uma voz para o feminismo entre as mulheres da classe trabalhadora.

Tem havido um grande aumento no número de artistas femininas do funk - funkeiras - nos últimos anos.

Sua música fala tão explicitamente sobre sexo como a dos funkeiros, os artistas do funk masculinos. Eles defendem a igualdade sexual e dizem que querem romper com o mito de que um homem tem poder sobre o corpo de uma mulher.

Alguns dos termos utilizados para se referir a mulheres em letras de funk são "cachorras", ou cães, "preparadas", pronto para o sexo, ou "popozudas", grande parte inferior.

A implicação é que as mulheres desempenham um papel servil na cama e na vida em geral.

Impacto feminista

Como funkeiras cada vez mais dominam a cena, a percepção sobre o papel das mulheres no funk e na sociedade também está mudando.

Valesca Popozuda diz que canta sobre temas importantes
para as mulheres
"Funkeiras estão capacitando mulheres pobres com suas canções e rompendo com a imagem fantasiosa das mulheres brasileiras, geralmente retratado como bem comportado", diz Ronaldo Lemos, diretor do Instituto Rio de Tecnologia e Sociedade.

"A música, cantada por mulheres de classe baixa, está chegando a um público muito mais amplo e melhorar o debate sobre a posição da mulher na sociedade", acrescenta.

Uma das primeiras cantoras a compor letras com uma abordagem feminista foi Valesca Popozuda.

Ela começou sua carreira há oito anos como vocalista e membro fundador do grupo Gaiola das Popozudas, Gaiola das mulheres com o bumbum grande.

O grupo ganhou reconhecimento nacional com canções que contêm linguagem altamente sexualizada, que também promoveu a igualdade de gênero sexual.

Em um dos maiores sucessos de seu grupo, a versão proibida de "Agora virei absoluta", Valesca fala sobre uma mulher que costumava ser agredida e traída por seu parceiro e se vingou dele por encontrar um amante.

A cantora disse à BBC que ela não esperava que sua música tivesse um impacto feminista, mas está feliz com o resultado.

"Eu percebi que eu estava atraindo fãs mais masculino do que feminino oque me chateou um pouco", diz Valesca.

"Então, a maneira que eu encontrei para fazer as mulheres gostarem da minha música era cantar sobre temas que eram importantes para elas, como a igualdade entre homens e mulheres e a noção de que o seu corpo pertence a elas e que elas podem fazer o que quiser com ele."

'A piada'

Ronaldo Lemos acredita que músicas como aquelas cantadas por Valesca também refletem as mudanças sociais que ocorrem no Brasil, onde 40 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza na última década.

Dança explicitamente sexual e letras ainda dominam 
"Cantoras são um espelho da diversidade que encontramos em toda a população brasileira, cheia de mulheres totalmente independentes, que são lutadoras de verdade, mães e grande parte do tempo, o ganha-pão", disse ele.

"Essa mulher não quer ser vista como um objeto sexual, porque esta não é a realidade."

O conteúdo explícito da música de Valesca, visto como vulgar por muitos, provocou um debate recentemente no Brasil, depois que ela se tornou o tema de uma dissertação de mestrado.

Mariana Gomes, estudante de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense, no Rio, está considerando como as mulheres estão ganhando uma nova voz através do funk.

Mas a jornalista Rachel Sheherazade, da rede de TV SBT, disse no ar e mais tarde em seu blog que a dissertação de Mariana Gomes está tentando estabelecer entre o funk e o feminismo é "uma piada".

Valesca diz que não pode agradar a todos com o seu trabalho e os desafios críticas de que suas canções são obscenos.

"Quando um funkeiro fala sobre sexo e sai com muitas mulheres não é um problema. Então, por que uma mulher pode não escrever canções semelhantes sobre o lado feminino da história?" ela questiona.

Vistas polarizadas

Escritora feminista Lola Aranovich acredita que as canções que defendem o direito das mulheres de expressar a sua sexualidade livremente são muito positivas, especialmente para as mulheres pobres que ainda estão esquecidos pelo Estado.

"É melhor ter um poder que nenhum", diz ela.

Funkeiro Mr Catra não tem dívidas que o feminismo pode
assumir o funk carioca
Por outro lado, ela ressalta que a coreografia realizada por funkeiras tende a se concentrar nas nádegas e seios.

Valesca Popozuda é ela mesma o nome que se refere às nádegas dela (cirurgicamente modificadas). Cada nádega contém 550 mililitros de silicone e é segurado por 5 milhões de reais (R$ 1,4 milhões). Ela também tem implantes mamários.

Isto, diz Lola Aranovich, "obviamente não é feminista e transforma a mulher em mercadoria", descrevendo a mensagem de que as mulheres devem ter a cirurgia para manter ou aumentar a sua aparência como "muito negativa".

A tendência não passou despercebido pelos funkeiros masculinos do Brasil.

O artista conhecido como Mr Catra, cujas canções próprias, muitas vezes contêm linguagem altamente sexualizada, diz que reconhece a mensagem feminista crescente na cena do funk. No entanto, ele acredita que as mulheres estão correndo um risco.

"Se as mulheres começam a enganar os homens e beijando caras diferentes na mesma noite, elas vão achar que é difícil encontrar um marido", diz o cantor, que atualmente tem três parceiras diferentes e descreve-se como "o maior feminista que ele sabe".

Malu Machado, um estudante de 22 anos no Rio, diz que esse tipo de atitudes estão desatualizados e não refletem a maneira como as mulheres vivem suas vidas hoje.

"Eu observo as mulheres se sentem mais liberada e se identificam com as músicas", diz ela.

"Elas sentem que podem fazer o que quiserem com suas vidas sexuais e não estão preocupados com a opinião das outras pessoas."

Matéria original: BBC News

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